O porquê dos porquês

O porquê dos porquês

Sem as dúvidas não há aprendizagem. Perguntar, pesquisar, pedir para que alguém demonstre como se faz, eis o ponto de partida para aprender, criar condições para entender e ou alcançar a habilidade de executar algum trabalho.

Reconheço que nos últimos anos, devido ao acesso à internet e às mensagens que recebo diariamente, aprendi tanta coisa… No entanto, apesar de tanto conhecimento assimilado, angustio-me continuamente com uma questão… Por que mensagens ótimas e oportunas, em termos de conteúdo, são encaminhadas com grotescos erros de português? Por quê?

Erros de ortografia e de concordância são os mais comuns. Raro o dia que não me chega ao menos uma mensagem contendo barbáries gramaticais e ortográficas. Espanto-me com mais intensidade quando constato que tais mensagens partiram de pessoas com, no mínimo, nível superior. Nem considero a falta de crase ou sua colocação equivocadamente. Aliás, lá pelos anos 60, Ferreira Gullar ressaltava em uma máxima que a crase não foi feita para humilhar ninguém. Mas que humilha, humilha, ora!

O erro constatado com mais frequência, fácil de ser evitado, é o uso incorreto dos porquês, porque, por que e por quê. Ontem mesmo uma bem fundamentada explicação contemplava no título: “Porque há tantos políticos corruptos?” Não! Mil vezes não! Em qualquer pergunta o “por que” é separado. Por que há tantos políticos corruptos? Valorizo a mensagem, apesar do erro de português, porque a resposta bem fundamentada interessa a todos os cidadãos de bem.

Fácil: em perguntas sempre use o “por que”, sem erro. Agora, se o “por que” vem no fim da frase, aí será grafado “por quê”, ganhando o circunflexo. Você não aprendeu isso por quê? A resposta a uma indagação exigirá sempre o “porque”. Não sabia disso porque ninguém me explicou.

O porquê, grafado junto e acentuado, é um substantivo. Significa causa, razão. Quero saber o porquê deste selo antigo ter tanto valor. Lembrei-me de um notório e saudoso professor, o Girafales, com seu engraçado bordão: Por que causa, motivo, razão ou circunstância? O jeito sério e determinado era o principal porquê da graça do professor Girafales.

Voltando à vaca fria, retorno à minha pergunta inicial… Por que há tantos erros de português em mensagens encaminhadas pela internet? Seria a pressa de enviar a mensagem? Ou reflexo dos tempos atuais nos quais, dizem, muitos fingem de que ensinam e alunos fingem que aprendem. O porquê desse problema, francamente, não sei. Quanto à outra questão, o porquê da expressão “Voltando à vaca fria”. Essa, desafio o leitor a pesquisar. Vamos lá!

Dúvidas levam ao conhecimento, à busca de informações. Minha certeza é que quem leu este despretensioso texto meu o fez por alguma dúvida. Que ótimo! Dúvidas servem até para inspirar a composição de músicas. Exemplo disso é a marcante O que será, que será – À flor da pele – obra do Chico e Milton Nascimento, aqui interpretada por seus autores: https://www.youtube.com/watch?v=qmick_gmGR

 

O lado bom da memória

É tempo de viralizar

É tempo de viralizar

Viralizar é um verbo bem moderno, vinculado à Internet e significa fazer com que uma mensagem se espalhe rápida e amplamente, como se fosse um vírus. Todos sonham em ser ou ter algo viralizado e, com isso, obter a fama. Para muitos, ser famoso é mais importante do que ser feliz. Embora os mais famosos, sem abrirem mão de sua fama, poderio e riqueza, sonham em viver momentos tranquilos sob confortável condição de anonimato.

Na década de 60, o cineasta, pintor e empresário americano Andy Warhol preconizou que, no futuro, todos teriam os seus 15 minutos de fama. Apesar de dizer ser profundamente superficial, o Warhol ficou famoso também pela sua frase. Só que, há mais de 50 anos, ele não poderia supor que estariam por vir meios de comunicação como a Internet, os celulares que trazem o mundo na palma de sua mão. Como imaginar os tempos de hoje e dimensionar o a agilidade, a força e alcance das redes sociais? Se vivo fosse, Andy Warhol atualizaria sua sentença afirmando que todos teríamos nossos 15 segundos de fama.

Até metade do século XX, ser famoso não era fácil. Era um status alcançado por poucos privilegiados. Em compensação, a fama era sólida, duradoura. Com o avanço dos meios de comunicação, a acesso à fama foi ficando cada vez mais fácil, dando oportunidade cada vez maiores a muitos. Hoje, quando se viraliza uma mensagem, por exemplo, focando uma menina de seis anos que executa uma peça clássica ao piano, esta se torna rapidamente famosa. Em contrapartida, a fama que se alcança hoje, bem mais fácil de ser conquistada, tem o negativo vínculo da efemeridade. Não se faz mais fama como a de antigamente, não é mesmo?

Creio que o primeiro exemplo do emprego do verbo viralizar, mesmo ainda sem ser conhecido como tal, ocorreu em 1992, quando um francês viralizou o talento de cantor mirim de seu filho Jordy, então com quatro anos. A propagação da amostra do menino cantando viabilizou o amplo sucesso do disco com Jordy cantando a música “Dur dur d’être bébé!”, algo como “É difícil ser um bebê”. O sucesso foi imediato e Jordy ficou famoso no mundo todo. Com isso, garantiu um lugar no Guinness Book por ser o cantor mais jovem a obter um sucesso amplo, a ter uma música em primeiro lugar nas paradas de sucesso. Dois anos após, o sucesso, a justiça francesa expurgou Jordy da vida artística, legando exploração comercial por parte dos pais. Quer recordar o sucesso do Jordy enquanto famoso ou ouvi-lo pela primeira vez? https://www.youtube.com/watch?v=30nQJFO2dlk

É possível viralizar na música, literatura, fotografia, pintura, dança, esporte, teatro e malabarismo e. O humor, o esdrúxulo, o exagero grotesco, estes são alguns dos caminhos fáceis para tornar viral o que se posta na Internet. Animais brincando, brigando, relacionando-se com crianças ou idosos, mensagens assim podem magicamente viralizarem. Nesta presente semana, mensagens viralizadas que me chegaram foram a do iguana tentando escapar, em louca correria, do ataque de serpentes e a do bebê fazendo beicinho e chorando de ciúmes quando o pai e a mãe trocam beijocas.

Como se viralizam cenas cruéis, estúpidas, tétricas, nauseabundas…Infelizmente há que se abrir a mensagem saber do conteúdo, já que o título pode ser enganoso. Mas sou justo em reconhecer que há mensagens que viralizam pela força positiva de um ato. Alguém que salva das enchentes um cadeirante; um cão que visita o túmulo da dona que o criava; uma criança negra que divide uma bolacha com uma criança branca ou de um transeunte que retira seu casaco e o doa a um morador de rua que treme de frio. Como é bom ver o bem viralizado. Como é triste ver boatos e falsidades serem virais.

A fama nunca foi atrativo para mim. Almejo jamais ser alcançado pelos 15 minutos de fama profetizados pelo Andy Warhol, atualizados agora com a Internet para 15 segundos. Não tenho vocação para vestir a fantasia de celebridade instantânea. Prefiro a paz de ser apenas mais um na multidão, um joão ninguém. A vantagem principal é poder desfrutar, sem ser incomodado do melhor que a vida oferece.

Sem ser foco na Internet, sem ser o famoso da vez, é possível usufruir plenamente de momentos gostosos, como o da solitária caminhada pela praia quando o dia acorda e se espreguiça em brisas e cores tênues. Em alguns momentos é preciso nos despir dos equipamentos eletrônicos, ainda que seja por algumas horas. É importante que não nos sentimos continuamente aprisionados ao passado nem visceralmente dependentes de um futuro cada vez mais tecnológico. Presentei a ti mesmo com a emoção da simplicidade. Em momentos assim o verbo viralizar é temporariamente deletado do dicionário, possibilitando vivenciar novos “velhos” momentos. É quando se conjuga, com emoção, o melhor de todos os verbos: viver.

Súplica cearense de um baiano